sábado, 27 de dezembro de 2008

.ociosidade brutal.


Sentimentos ilhados.

Metade sussurra, outra grita.
uma acredita em beijos ternos, em finais felizes
outra acha que amar é desajeitado, errado.


' e quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração
E quem irá dizer. Que não existe razão?'

.


quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Meu coração...



Na terra do coração passei o dia pensando - coração meu, meu coração. Pensei e pensei tanto que deixou de significar uma forma, um órgão, uma coisa. Ficou só com-cor, ação - repetido, invertido - ação, cor - sem sentido - couro, ação e não. Quis vê-lo, escapava. Batia e rebatia, escondido no peito. Então fechei os olhos, viajei. E como quem gira um caleidoscópio, vi:

Meu coração é um sapo rajado, viscoso e cansado, à espera do beijo prometido capaz de transformá-lo em príncipe.

Meu coração é um álbum de retratos tão antigos que suas faces mal se adivinham. Roídas de traça, amareladas de tempo, faces desfeitas, imóveis, cristalizadas em poses rígidas para o fotógrafo invisível. Este apertava os olhos quando sorria. Aquela tinha um jeito peculiar de inclinar a cabeça. Eu viro as folhas, o pó resta nos dedos, o vento sopra.

Meu coração é um mendigo mais faminto da rua mais miserável.Meu coração é um ideograma desenhado a tinta lavável em papel de seda onde caiu uma gota d’água. Olhado assim, de cima, pode ser Wu Wang, a Inocência. Mas tão manchado que talvez seja Ming I, o Obscurecimento da Luz. Ou qualquer um, ou qualquer outro: indecifrável.

Meu coração não tem forma, apenas som. Um noturno de Chopin (será o número 5?) em que Jim Morrison colocou uma letra falando em morte, desejo e desamparo, gravado por uma banda punk. Couro negro, prego e piano.

Meu coração é um bordel gótico em cujos quartos prostituem-se ninfetas decaídas, cafetões sensuais, deusas lésbicas, anões tarados, michês baratos, centauros gays e virgens loucas de todos os sexos.

Meu coração é um traço seco. Vertical, pós-moderno, coloridíssimo de neon, gravado em fundo preto. Puro artifício, definitivo.

Meu coração é um entardecer de verão, numa cidadezinha à beira-mar. A brisa sopra, saiu a primeira estrela. Há moças na janela, rapazes pela praça, tules violetas sobre os montes onde o sol se p6os. A lua cheia brotou do mar. Os apaixonados suspiram. E se apaixonam ainda mais.

Meu coração é um anjo de pedra de asa quebrada.

Meu coração é um bar de uma única mesa, debruçado sobre a qual um único bêbado bebe um único copo de bourbon, contemplado por um único garçom. Ao fundo, Tom Waits geme um único verso arranhado. Rouco, louco.Meu coração é um sorvete colorido de todas as cores, é saboroso de todos os sabores. Quem dele provar, será feliz para sempre.

Meu coração é uma sala inglesa com paredes cobertas por papel de florzinhas miúdas. Lareira acesa, poltronas fundas, macias, quadros com gramados verdes e casas pacíficas cobertas de hera. Sobre a renda branca da toalha de mesa, o chá repousa em porcelana da China. No livro aberto ao lado, alguém sublinhou um verso de Sylvia Plath: "Im too pure for you or anyone". Não há ninguém nessa sala de janelas fechadas.

Meu coração é um filme noir projetado num cinema de quinta categoria. A platéia joga pipoca na tela e vaia a história cheia de clichês.

Meu coração é um deserto nuclear varrido por ventos radiativos.

Meu coração é um cálice de cristal puríssimo transbordante de licor de strega. Flambado, dourado. Pode-se ter visões, anunciações, pressentimentos, ver rostos e paisagens dançando nessa chama azul de ouro.

Meu coração é o laboratório de um cientista louco varrido, criando sem parar Frankensteins monstruosos que sempre acabam destruindo tudo.

Meu coração é uma planta carnívora morta de fome. Meu coração é uma velha carpideira portuguesa, coberta de preto, cantando um fado lento e cheia de gemidos - ai de mim! ai, ai de mim!

Meu coração é um poço de mel, no centro de um jardim encantado, alimentando beija-flores que, depois de prová-lo, transformam-se magicamente em cavalos brancos alados que voam para longe, em direção à estrela Veja. Levam junto quem me ama, me levam junto também.Faquir involuntário, cascata de champanha, púrpura rosa do Cairo, sapato de sola furada, verso de Mário Quintana, vitrina vazia, navalha afiada, figo maduro, papel crepom, cão uivando pra lua, ruína, simulacro, varinha de incenso.

Acesa, aceso - vasto, vivo: meu coração é teu.


[Caio Fernando de Abreu]


*

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

. O que não cala.


Me vejo abrindo janelas e portas
escalando muros
no caminho.

Acho que a vida ter que ser assim, pertubadora
com picos elevados de incomodação.

Amar, ou odiar?
não importa..
desde que a vida seja, saborosa.

Quero morder a vida,
e por ela...


ser despedaçada.


Termino com Florbela Espanca,
verso esse, que nesse momento seria o meu clamor.


Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar.


*

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Entre laços.




_os braços,

num abraço
formam o laço do amor!

*

*
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quinta-feira, 16 de outubro de 2008

16.10

(..)
e eu não tive tempo de dizer que quando a gente precisa que alguém fique a gente constrói qualquer coisa,
até um castelo.


Caio Fernando.

.

.inesquecível.

-

E como esquecer..
se lembranças, não tem imunidade.


*

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

E de Agora Em Diante.

.

E de agora em diante teria sido decretado o amor sem problemas
E seriam vitrines nos olhos, e as almas vagariam sem medo
E de agora em diante seria pra sempre o que pra sempre acabara
E seria tão puro o desejo dos homens,
Que Dionisio enlaçaria a virgem com braços enternecidos
E aplaudiríamos, calmos e frenéticos como um São Francisco febril
E de agora em diante pra trás não haveria
Não mais a virtude dos fortes, mas o mérito dos suaves
O homem feminino e a mulher guerreira
O amor comunitário, sem ciúmes.
Dariam as mãos as moças que amo e brincariam de roda em volta de minha preferida
E um artesão criança esculpiria flores nos cabelos e um sorriso sincero no rosto
E de agora em diante Mahatma Ghandi tava vivo pra sempre e Jesus era hippie,
Beethoven era roqueiro e Lenon era como nós
E se não desse certo, de agora em diante, ao menos..teríamos tentando.





.Oswaldo Montenegro.


Sem(elhança).



Sentir falta.. é lembrar da ausência

já saudade, é da presença.

a falta limita..
a saudade completa.


saudade é sorrir..
e a falta, a falta faz doer.

*

quinta-feira, 9 de outubro de 2008



*
'Um vagabundo como eu..
também merece ser feliz,
pois eu só quero dessa vida.
Ter um amor somente meu..
ter um amor somente meu.'

*

Dos enganos, dos amores.

O amor também acontece em ruas estreitas..
nas promessas não cumpridas,
das ruínas, das amarguras,
dos dias de tempestades, de falas ásperas,
das marcas profundas, das cicatrizes,
das tormentas no meio da noite,
de perder o rumo,
de sobras, de choro no banho, de decepção,
de mentiras, de ilusão,
de erros.


E mesmo ele sendo assim, eu o quero.

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segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Refúgio de mim.
























*

Quero tudo o que é seu
de dentro e de fora, minuto pós minuto.


O direito de fugir..
pra dentro de ti.


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domingo, 5 de outubro de 2008

06. 10

-

E quem consegue matar,
a parte de si..
que insiste em morar no outro?


*

O amor, é como ele vê.


O amor de fato não é condução para levar alguém à algum lugar..
amor não são jogos de interesse, caso seja não é amor..

amor verdadeiro é difícil de conquistar, porque ele não pode ser conquistado, conquistas são buscas e amor é construção, nas buscas visionamos interesses, já na construção abrimos fronteiras. E agora sim, és um só ser quando antes eram dois, caminhando juntos nas estradas da evolução.
O amor une, interesses afastam..

amor é visto pela visão da alma, o simples interesse é visto pelos olhos da cara.
E quando é assim, a humanidade caminha num jogo desfreado da busca
insana e com propósitos de chamar o amor, de amor.

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quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Destino.

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- Sei.
- Se parece distante, talvez seja porque está pensando em alguém.
- Em alguém do quadro?
- Não, um garoto com quem cruzou em algum lugar, e sentiu que eram parecidos.
- Em outros termos, prefere imaginar uma relação com alguém ausente que criar laços com os que estão presentes.
- Ao contrário, talvez tente arrumar a bagunça da vida dos outros.
- E ela? E a bagunça na vida dela? Quem vai pôr ordem?

[Le Fabuleux Destin D'Amélie Poulain]
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quarta-feira, 1 de outubro de 2008

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O amor verdadeiro começa..
lá onde não se espera mais nada em troca.

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(Antoine de Saint-Exupéry)

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Eternizar.



...se a vida é isso mesmo que dizem,
que seja.
Mas que seja feita de momentos que nos faça flutuar
onde queremos parar tudo
e viver..
viver por um beijo.

*
*

Tolice é viver a vida assim
sem aventura.
Deixa ser, pelo coração
se é loucura então..
melhor não ter razão.
(Lulu)

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terça-feira, 30 de setembro de 2008

e assim, era.

Veio num sonho, certa noite.
Ela o amava.
Ele a amava também.
E ainda que essa coisa, o amor, fosse complicada demais para compreender e detalhar nas maneiras tortuosas como acontece,
naquele momento em que acontecia dentro do sonho, era simples.
Boa, fácil, assim era. Ela gostava de estar com ele, ele gostava de estar com ela.
Isso era tudo.

.
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[Caio Fernando de Abreu]

A quoi ça sert l’amour..



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.As coisas tão mais lindas.

_

Entre as coisas mais lindas que eu conheci..

só reconheci suas cores belas quando eu te vi.
Entre as coisas bem-vindas que já recebi,
eu reconheci minhas cores nela..
então eu me vi.


(..)

E as coisas lindas são mais lindas,
quando você está
hoje você está
onde você está..
As coisas são mais lindas,

por que você está
onde você está
hoje você está..
_nas coisas tão mais lindas
. .

.Nando Reis.

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exclamando.



Começar pelo fim é um novo começo? ..
ou será que todo começo precisa de um novo começo?..
e se a história é um segmento daquilo que já vivemos, apenas com novos personagens, mudamos o figurino e tudo continua num contínuo sem fim?
Se for assim qual é o sentido do que sentimos?
..ou será que o que sentimos é sem sentido?


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